Cátia Lara Martins
Cirurgia realizada em 10 de novembro de 2006
Paciente com 38 anos
A cirurgia da obesidade para mim foi muito mais do que parar de tomar remédio para a pressão, poder cruzar as pernas, ter o prazer de usar jeans e camisa branca. A incisão foi muito mais profunda, mudou meu olhar para a vida, conceitos e paradigmas. Desde criança escutava atentamente os conselhos dos meus pais e um deles me chamava mais a atenção: “Quando a gente deseja, quer muito alguma coisa, basta ir atrás, lutar para conseguir: O desejo move o mundo”.
E assim fui conduzindo minha vida, e muitas coisas que desejei, realmente fui atrás, e alcancei. Com 30 e poucos anos minha primeira frustração. Desejei ser mãe, tentei durante um ano, não consegui. Queria, mas não podia. Precisei de uma força externa -uma mãe que pôde ter um filho, mas não desejava cuidá-lo me entregou através da adoção uma menina para ser minha filha. Assim, pelas mãos de uma outra pessoa realizei meu desejo.
Me deparei, então, com outra frustração. Frustração que já me acompanhava há anos, mas que com a maturidade se aprofundou. Desejava emagrecer, sempre desejei, desde os 18 anos, tentava, fazia dietas e mais dietas, remédios, exercícios, e nada. Ouvia das pessoas “se tu realmente quiseres tu emagreces, basta fechar a boca”; “tu és uma gordinha bonita é só emagrecer um pouco”; “se fizeres algum exercício consegues”. Algumas vezes realmente consegui resultados mas não respondia as manobras terapêuticas e logo voltava ao peso anterior ou até engordava mais. Nossa! Foram anos de sofrimento psicológico, muita pressão e frustração, frustração que me fazia comer mais e mais. Então pensei, preciso mais uma vez de alguma ajuda externa. E enfim, encontrei nas mãos dos cirurgiões e da técnica da cirurgia bariátrica a ajuda que precisava, a ferramenta que necessitava para conseguir realizar meu desejo. Percebi que eu não era a vilã, eu era a vítima da doença obesidade. Doença que é um fenômeno multifatorial que envolve componentes genéticos, metabólicos, endócrinos, comportamentais, psicológicos e sociais. Percebi que não era falta de vontade, era realmente impotência diante da doença obesidade.
Assim, a intervenção cirúrgica foi eficaz, foi um limitador para começar a fazer mudanças na minha vida. Mudanças profundas, como de olhar o mundo com olhos de quem tem uma doença chamada obesidade. A cirurgia me libertou do alimento, não preciso mais dele para driblar minhas frustrações. Contento-me com pouca comida, pouco doce e também com o número menor das minhas calças jeans. Antes eu era uma gordinha simpática, hoje sou uma mulher feliz, alegre e saudável.
Percebi, por fim, que realmente quando desejamos algo temos que lutar, mas muitas vezes precisamos de aliados para vencer a batalha, precisamos da tecnologia, da ciência, do conhecimento e acima de tudo da doação.